Entre os problemas de saúde que mais causam afastamento do trabalho, os mais comuns são as doenças mentais, como a depressão, a ansiedade, crise de pânico ou a síndrome de burnout. Isso é, claramente, um sinal da importância de se falar da saúde mental nas empresas.
É fato que o trabalho é uma parte muito importante da vida de uma pessoa. Consequentemente, espera-se que esse âmbito seja uma fonte de autoconhecimento, crescimento e realização, mas isso nem sempre acontece na vida real.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e publicada no Jornal da USP, o Brasil é o país mais ansioso do mundo, o quinto mais depressivo e o segundo com maior índice de pessoas estressadas. A segunda maior causa de incapacidade no país são os problemas relacionados à saúde psicológica.
Segundo uma pesquisa da PLos ONE, realizada em 2012, São Paulo é a metrópole que apresenta maior número de casos de transtornos mentais no mundo, sendo que cerca de 30% da população sofre de algum tipo de transtorno mental, e um terço apresenta alguma alteração mental grave.
Da mesma forma que esses problemas afetam negativamente a vida pessoal de um colaborador, também atinge a empresa e, principalmente, sua lucratividade.
Segundo estudo, realizado pela London School of Economics and Political Science, a depressão custa às empresas brasileiras mais de R$ 300 bilhões em perda de produtividade no trabalho.
Em resumo, isso prova o que todos nós já sabíamos: o colaborador de uma empresa é o ativo mais precioso da mesma. Para que os dois lados dessa equação possam crescer juntos, sem esse tipo de problema, é preciso pensar (e repensar) a saúde mental nas empresas. Mas o que é, de fato, saúde mental?
Afinal, o que é saúde mental?
Muito se fala em saúde mental, principalmente nos tempos difíceis em que vivemos, mas poucas pessoas sabem do que exatamente se trata. Podemos concluir que saúde mental é a qualidade de vida em relação à cognição e ao equilíbrio emocional.
As principais características que compõe uma pessoa com saúde mental são:
- estar completamente bem consigo mesmo, e com os outros ao redor;
- aceitar as alegrias e adversidades da vida;
- saber lidar e administrar todos os tipos de situações;
- lidar bem com as próprias emoções, tanto as positivas quanto as negativas;
- lidar com as adversidades que a vida apresenta sem comprometer a si mesmo e aos outros.
Para que a saúde mental esteja em dia, todos os âmbitos da vida de um ser humano precisam estar equilibrados, do pessoal ao profissional. No que diz respeito à saúde mental no trabalho, as empresas podem — e devem — garantir ações de caráter preventivo, promovendo um ambiente de trabalho saudável e feliz.
Consequências do descuido com a saúde mental
Como já foi dito anteriormente, os problemas relacionados ao descuido com a saúde mental no trabalho afetam tanto os colaboradores, quanto as próprias empresas.
Mas, para ser mais exato, quais são as consequências para cada um dos dois lados da moeda?
1. Consequências para o colaborador
Doenças como a depressão e ansiedade no trabalho são causadas por ambientes desregulados, que trazem mais ansiedade do que, propriamente, sentimentos positivos.
Por isso é tão necessário que as empresas apliquem no dia a dia programas de prevenção, além de boas práticas de gestão e liderança.
Em resumo, eles funcionam para guiar os colaboradores e ajudá-los a enfrentar a pressão do dia a dia na empresa, desassociando as relações pessoais.
Em contraste, sem a realização desse programa, existe o risco de que a equipe fique cada vez mais insatisfeita e, consequentemente, fique desengajada e com problemas relacionados à saúde mental.
Além disso, para que supere tais problemas, necessitará de tratamento médico, além da alta possibilidade de se afastar do emprego.
Atualmente, no Brasil, transtornos mentais já são a 3ª maior causa de perícias médicas no INSS, e a depressão ocupa a primeira posição.
2. Consequências para a empresa
Da mesma forma que a falta de saúde mental nas empresas piora a vida do colaborador, também afeta diretamente os lucros da empresa. Entre os problemas, podemos citar:
- mais faltas e absenteísmo;
- afastamentos por licença médica;
- aumento no turnover;
- redução da produtividade e presenteísmo;
É bom lembrar que as faltas relacionadas ao estresse tendem a ser mais prolongadas do que as faltas relacionadas a outras causas. Isso pode gerar altos custos financeiros para a empresa, da mesma forma que todos os outros problemas citados anteriormente.
Um colaborador com a saúde mental debilitada, algumas vezes, precisa de uma mudança de função ou atividade, exigindo um investimento da empresa em treinamento e tempo para adaptação.
Enfim, dependendo do tempo de ausência, o funcionário afastado terá que ser substituído, para não comprometer as atividades e a entrega, gerando custos, desde o processo seletivo até as despesas de rescisão do contrato temporário.
Causas do problema de saúde mental no trabalho
A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho listou algumas condições de trabalho que podem afetar a saúde mental:
- volumes de trabalho ou limitações temporais excessivas;
- exigências contraditórias;
- falta de clareza quanto ao papel do trabalhador;
- comunicação deficiente;
- mudança organizacional mal gerida.
Já uma outra pesquisa sobre a saúde mental, realizada pela Occupational Safety and Health Association (OSHA), as causas mais comuns de estresse relacionadas ao trabalho foram:
- Reorganização do trabalho ou a insegurança laboral (72% dos inquiridos);
- Extensos horários de trabalho ou o volume de trabalho excessivo (66%);
- Intimidação (o famoso bullying) ou o assédio no trabalho.
Ações preventivas que a empresa pode realizar
A maioria dos problemas que gera má qualidade na saúde mental dos colaboradores nasce da má gestão, comunicação ruim, assédio psicológico e sexual em ambientes insalubres, e problemas semelhantes encontrados no meio empresarial.
Uma boa opção para prevenir esses problemas é promover programas e palestras que tratem da medicina preventiva sobre a saúde mental, lembrando que isso deve envolver todos os colaboradores dentro da empresa. O tema deve ser apresentado com frequência para estimular a participação de todos.
É preciso abordar temas como:
- Relevância de uma alimentação saudável;
- Evitamento do consumo excessivo de bebidas alcoólicas ou de cigarro;
- Incentivo à prática de atividades físicas;
- Reeducação alimentar.
Ainda mais importante que as palestras, é imprescindível sempre manter um canal aberto de comunicação entre colaboradores e os gestores e RH, com diálogos constantes e interação entre os profissionais da empresa. Isso torna o ambiente mais leve e aberto.
A criação de uma ouvidoria interna também é extremamente importante, para que os colaboradores se sintam seguros em compartilhar suas insatisfações e fazer denúncias em casos mais graves, como racismo, homofobia, machismo e outros tipos de assédios morais ou psicológicos.
A empresa e os colaboradores têm função essencial nas ações preventivas para evitar problemas de saúde mental e no desenvolvimento de medidas de controle do ritmo de trabalho.
Uma boa opção é treinar a liderança para aprimorar as relações pessoais e promover iniciativas que reduzam o estresse dos colaboradores e os conflitos pessoais.
Conclusão
O cuidado com a saúde mental no trabalho deve partir do colaborador e da própria empresa, uma vez que as consequências desse tipo de problema afeta os dois lados.
Esse tipo de problema é muito comum nos tempos atuais, e pode ser combatido através de programas de prevenção realizados no ambiente de trabalho, de forma que os colaboradores tenham saúde mental, evitando transtornos e perda de lucro no negócio.
Investir em programas de prevenção e promoção da saúde mental demonstra o interesse da empresa em alcançar os objetivos e as metas, sem ignorar os cuidados com o bem-estar corporativo, tornando as lideranças cada vez mais humanas.